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DESCANSA, militante.

  Quando qualquer pessoa se mobiliza para abordar algum assunto trazendo uma problematização ou chamando atenção para um comportamento ou uma ideia que fira os direitos de liberdade e existência do outro, logo surgem várias outras, saltando com a frase que ficou famosa e virou meme ‘’Descansa militante’’. O meme é usado também como uma expressão do que seria um exagero, do não necessário, uma ironia.  A militância não se desliga, não é ativada e desativada de acordo com os ambiente que a gente frequenta. Ela aguça nossos sentidos, pra não deixar passar nada, nenhum detalhe, nenhuma piada sem graça, sem intenção. Quando se assume a militância, se vive ela 24hs por dia, por que não tem como ser diferente, é o que você é.  Pensando nisso, e por ser uma pessoa que se considera militante das pautas raciais, confesso a vocês, eu juro que queria descansar. O lugar de luta é um lugar solitário, é dolorido, é incompreendido. Enxergar o que a maioria não enxerga provoca em nós um sentimento de c

Você tem coragem de se aprofundar?

       A massificação no acesso a informação via internet é um fenômeno que possibilita à grande massa acompanhar e participar dos debates que acontecem online (política, saúde pública, economia, diversão, lazer, etc). Nessa oportunidade, o assunto Racismo tem estado bem presente nas redes, mesmo que, infelizmente, sempre  fomentado por algum ato racista sofrido e exposto. Os mais variados grupos logo se organizam e formam hastags para participar da causa e falar em defesa do Movimento Negro. Apesar das circunstâncias que trazem esse debate mais aflorado de tempos em tempos, eu fico satisfeita  por ver um tema que já é debatido há décadas pel@s militantes que vieram antes de nós, tome esta enorme proporção e evolva tanta gente.        Esse debate aberto tem despertado em muitas pessoas (principalmente as pretas, incluindo a mim) a vontade de estudar, de conhecer a história que veio antes de nós, de ler escritores negros e se aquilombar com outr@s pret@s para debatermos juntos e aprende

Eu ia falar uma coisa, mas...

       Quando nascemos, umas das principais expectativas dos nossos pais e/ou cuidadores é a sensação de ouvir nossas primeiras palavras. Será que vai ser ''papai'', ''mamãe''? E geralmente é uma festa quando isso acontece; as pessoas fazem competições entre os filhos pra ver quem falou primeiro, ou ainda a quantidades de palavra por idade que a criança aprendeu. Quando enfim tornamos a nossa comunicação oral, significa dizer que mais uma etapa inicia-se em nossa vida, que estamos aprendendo e evoluindo, e que seremos ouvidos. Mas a pergunta é, você vai ser ouvido por quem? O que você tem a dizer?        Quantos conflitos foram causados ou evitados pela má comunicação verbal entre as partes falantes? Os relacionamentos amorosos podem tomar rumos diferentes, causados pela capacidade de clareza na comunicação entre os parceiros. O mercado de trabalho (que é excludente)  cada vez mais exige pessoas com boa oratória para ocupar as vagas.  As causas pelas qua

Madalena Bordiano: Bilhetes que derrubaram a Casa Grande.

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       Nas últimas semanas fomos surpreendidos com a matéria sobre a vida de Madalena Gordiano; uma mulher negra que viveu em situação análoga a escravidão desde os 8 anos de idade, quando foi à uma casa de família¹, onde pessoas brancas moravam em busca de emprego. Nessa triste história, poderíamos discorrer, problematizar e lamentar por horas a fio sobre várias questões, mas aqui caro leitor, trarei uma visão humilde e bem resumida sob a ótica de uma mulher negra e estudante de Pedagogia.   Para ler  sobre a história de Madalena na integra acesse  link .   Por muitos anos, Madalena foi privada de uma vida digna. Lhe tiraram o direito a continuação da educação formal, o brincar, um salário pelo seu trabalho e até mesmo o direito de ir e vir. Ao dar entrevista para a televisão, nota-se uma posição de inferioridade: olhar distante, um tom de voz em baixo volume, frases curtas.    Me pus a pensar na quantidade de experiências que ela não teve oportunidade de vivenciar e no quanto isso

Uma fala de 10 anos atrás que realmente reverbera

         Ontem nosso jogador de futebol Neymar sofreu um ataque racista em pleno jogo de futebol e nada foi feito a respeito. Logo as pessoas usaram suas redes sociais e saíram em defesa do jogador, inclusive esta autora que vos escreve. Mas um dado grupo de pessoas, trouxe uma fala dita por Neymar a mais de dez anos atrás, usando essas palavras - onde ele dizia que não se considerava negro-  como algo que justificasse o ato racista, mudando o foco da discussão. Soou quase como um ‘’bem feito’’ ou ainda ‘’esperou sofrer racismo pra saber que era negro’’. Não vou entrar na pauta do momento em que uma pessoa se descobre negra, nem irei mais tocar no assunto Neymar. Não agora. Mas quero trazer uma fala de 10 anos atrás que realmente reverbera aqui e que de fato, vale a pena ser trazia a tona, considerada e apresentada. Vou contar uma pequena história.           Certa vez uma moça de aproximadamente 16 anos estava numa roda de conversa informal com um pequeno grupo de pessoas e seu líder

Se você permanecer no raso jamais aprenderá a nadar.

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Durante minha infância, eu vinha para Governador Dix-Sept   Rosado, RN - cidade na qual resido atualmente – passar   todas as férias de fim de ano, e uma das tradições matinais era acordar cedo com meus tios e primos para irmos todos tomar banho no rio, geralmente no Rio da Ponte.   Meus 4 primos aprenderam a nadar desde muito cedo. Com tio Moises não tinha mistério: ele soltava os meninos na parte funda do rio e dizia ‘’se quiser sair vivo daí, comece a nadar’’ aqui não nos cabe o direito de julgar essa prática (risos), mas o fato é que todos nadavam como piabas nativas daquele lugar. Eu sempre fui uma criança medrosa. Demorei a aprender coisas simples como andar de bicicleta e nadar, e aprendi aqui com eles, através desse método eficaz, mas de segurança duvidosa (rindo de nervosa).   Durante os passeios no rio, eu ficava na beiradinha quase todas as vezes, e minha tia sempre dizia que eu jamais iria aprender a nadar se ficasse sempre alí, mas por muito tempo eu preferi ficar n

Convivendo com Transtorno Alimentar: um Poço.

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       Recentemente a Netflix lançou em sua plataforma o filme  O poço , (de origem espanhola, dirigido por  Galder Gaztelu-Urrutia,  2019)  que assume  uma narrativa de gênero misto, ficção cinentíca/terror  e  apresenta seu cenário em uma cadeia vertical  fora do comum: dois presos por cela, duas camas, uma pia, um vaso sanitário; cada detendo pode levar consigo um objeto, qualquer objeto (os personagens apresentam uma faca, um livro e até mesmo um cachorro). Não existem salas especiais com relação ao conforto, gênero, ou nível de crueldade dos possíveis crimes cometidos que levam uma pessoa a estar ali. A cada 30 dias, os detentos trocam de cela, mas de forma aleatória; permanecendo apenas seu companheiro. No centro de cada cela há um enorme  retângulo que dá acesso livre para a cela de baixo e para de cima e é assim que a comida passa por eles através de uma plataforma, uma vez ao dia.  Cena de O Poço (Foto: Reprodução) Ela é abastecida com um banquete imenso, contendo espec